(de Luciana Magalhães)
Roubaram o brilho dos meus olhos
O segredo da minha alegria
Roubaram minha vontade de amar
Minha memória está vazia.
Hoje faço parte de um todo
Mas eu não mato nem tão pouco
roubo
Sou apenas um número a mais
Sou órfão dos meus pais
Faço parte do cinza do céu
Do nublado da vida
Das enchentes que inundam as
ruas
De uma estrada sem divisa.
Sou a prova viva da miséria
E se meus olhos já não dizem
mais nada
O meu peito ainda sente a vida
Será que existe dentro de mim
uma saída?
Pele castigada pelo sol
Corpo franzino de um menino
O peso da realidade sob meus
ombros
E pés calejados pelo trabalho
A infância me faz fraquejar
O meu desejo renega onde estou
Um trabalho imposto pela fome e
pelo medo da morte
Janelas abertas aprisionadas pelo
medo
Carros blindados e refrigerados
Minhas palavras ignoradas são
ditas em vão
Somos os monstros da população.
Tem menino bem cuidado
Sentado do outro lado
Feliz com a vida que tem
E eu aqui nesta vida de ninguém.
Não é fácil entender esta
estatística
Que nos faz personagens do lado
errado da vida
Quero de volta meus chinelos
Quero agasalho para me aquecer
O coração que me arrancaram do
peito
Barriga cheia para me satisfazer
E se possível, devolvam os meus sonhos
Para que eu possa voltar a viver!
Luciana Corrêa