quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Em 2012, Drummond completaria 110 anos !!!

"Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar."




Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
 
Carlos Drummond de Andrade

Roubaram minha infância

(de Luciana Magalhães)

Roubaram o brilho dos meus olhos
O segredo da minha alegria
Roubaram minha vontade de amar
Minha memória está vazia.

Hoje faço parte de um todo
Mas eu não mato nem tão pouco roubo
Sou apenas um número a mais
Sou órfão dos meus pais

Faço parte do cinza do céu
Do nublado da vida
Das enchentes que inundam as ruas
De uma estrada sem divisa.

Sou a prova viva da miséria
E se meus olhos já não dizem mais nada
O meu peito ainda sente a vida
Será que existe dentro de mim uma saída?

Pele castigada pelo sol
Corpo franzino de um menino
O peso da realidade sob meus ombros
E pés calejados pelo trabalho

A infância me faz fraquejar
O meu desejo renega onde estou
Um trabalho imposto pela fome e pelo medo da morte

Janelas abertas aprisionadas pelo medo
Carros blindados e refrigerados
Minhas palavras ignoradas são ditas em vão
Somos os monstros da população.

Tem menino bem cuidado
Sentado do outro lado
Feliz com a vida que tem
E eu aqui nesta vida de ninguém.

Não é fácil entender esta estatística
Que nos faz personagens do lado errado da vida

Quero de volta meus chinelos
Quero agasalho para me aquecer
O coração que me arrancaram do peito
Barriga cheia para me satisfazer

E se possível, devolvam os meus sonhos
Para que eu possa voltar a viver!
 


Luciana Corrêa

Mente Mortal


(de Luciana Magalhães)

Mente que te condena e absolve
Expressão do medo e do pesadelo
Um salto de encontro ao fundo do poço
Pode transformar liberdade em roubo

Mente que determina suas escolhas
Amedronta na ausência da coragem
Sufoca o ar por trás das grades 
E encoraja no caminho da maldade

Mente que sente o vazio
Das horas do ócio e do vício
Um giro fatal cria o mau
E acorda seu instinto pecador

Mente que te condena e absolve
Rouba suas vestes e seu alimento
Trás frio para dentro do peito
Para que você congele de medo

A morte é o caminho final
Que pode chegar antes da hora
Na mente perdida do asfalto
O corpo caído com pés descalços..

Um salto no escuro
Ao inverso do certo
Um risco estampado
Pavor para todo o lado

Em confronto hostil, 
Corações são arrancados do peito
A prisão maior é na alma
Vendida como bala perdida

Nos escombros do horror
Não existe mais opção
A arma que cruza nosso caminho
É cravada no leito de nosso ninho.

E há o que se pode chamar de rua
Direção cega e sem saída
Dor da policia ou do bandido
Aliado ou inimigo

E se há saída para a morte
Não devemos fechar os olhos
É preciso dormir acordado
Para amanhecer ainda com vida


 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um pouco de graça e ingenuidade para o nosso dia ....


Meu Menino Maluquinho
(de Luciana Magalhães)

Menino saltitante
Pequeno palhacinho,
Tão veloz e irrequieto
Sai de baixo peteleco.

Menino pipoca que vive pulando
Assiste a teve com a cabeça girando
Dá salto para o alto e vira cambalhota
Ai que menino peralta

Magrinho de sorriso alarmante
Não esconde, nem desmente seu carisma gigante 
Na turma crescem os olhos quando ele faz piada
E a todos contagia com as suas macacadas.

Menino que faz lembrar o maluquinho
Pés de vento que vive caindo
Por onde andam Ziraldo e seu menino?
Levem este que ele também é doidinho.

Brincadeira predileta só podia ser corrida
Em meio a tantos tombos, uma coleção de caídas.
Menino encardido precisa de um banho.
Faz birra nesta hora, como doem estas feridas!!

Menino tão risonho,
Faz arte por toda parte
Nas férias de inverno, escutem os seus berros
Nas de verão então, que situação!  
 
Menino inteligente,
Carrega seu maior tesouro
Para a família exibir
Um boletim que vale ouro

Mais existe um tesouro mais valioso ainda
Mora dentro do peito e vibra a cada batida
Pode ser verde e amarelo,
Ou preto e branco, coração de saltimbanco!

Feliz desse artilheiro
De coração tão amigo
Entre pipas, futebol e partidas
Lá vai ele com sua chuteira colorida.  
Luciana Magalhães

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

ENTRE PAIS E FILHOS ADOLESCENTES

Pais de Adolescentes
(de Luciana Magalhães)


Ninguém ousa contestar que ser pai ou mãe é uma dádiva, uma benção de Deus, um dom divino capaz dos mais sublimes gestos de amor... mas essa relação é de uma dimensão tão mais rica e complexa do que a ciência pode comprovar...
É uma relação de natureza, de carne e osso, de sentimentos tão diversos que não dá para explicar.
Dia após dia, ela é repleta de questionamentos, e de um discurso constante, para não dizer eterno; muitas vezes é tão cansativo que nos leva a exaustão, mas em outras é imensamente admirável e gratificante. 
É a incerteza que se instala cada vez que a circunstância nos impõe uma atitude firme, são as perguntas sem respostas, a angústia dos momentos de dúvida e uma sensação de impotência gerada muitas vezes em situações que não sabemos como lidar.
Pais certamente surtam de vez em quando, se estressam e resmungam com facilidade pelos cantos da casa tentando justificar seus atos, estabelecer punições, diálogos, mas tem sempre suas palavras contestadas! Isso é próprio do adolescente, quem inventou essa biologia????
Ô relação danada que nos enfrenta e nos abraça, ora somos malvados, ora coitados! 
Certamente nada é tão fácil e não haveria de ser entre nós, essa relação que alterna amor e raiva, nos momentos em que nada se entende e gratuitamente vêm as discussões. 
Nós pais, carregamos no peito um amor impossível de se medir, a responsabilidade para educar, disponibilidade para se doar, paciência para entender, flexibilidade para equilibrar e uma perseverança incondicional para não desistir; mas somos acima de tudo donos de uma imperfeição própria da nossa natureza, aquela que é capaz de errar, de fraquejar e de quase enlouquecer quando tudo sai de ordem. Será que existe um porto seguro?
A vida prossegue como a natureza nossa de cada dia, aquela que por tudo passa, tudo se transforma, mas sobrevive ... E quando tudo parece desmoronar, um ciclo se fecha e tudo se aquieta, mas outras passagens virão, ora maiores ou não... Não existe segredo, viver é o verdadeiro sentido, a força está em nós!    




quinta-feira, 25 de outubro de 2012

2012 - Ano de Eleição !!!!!!!!!

Subornaram a nossa miséria 
(de Luciana Magalhães)

Certo dia alguém comprou meu voto, e eu o vendi com o maior prazer...
Faço parte da fome e da sede, da seca e da enchente, mas sou gente!
Tenho poucas alegrias nesta vida, mas uma delas eu senti naquele dia, e era dia de eleição...
Em minha mesa havia fartura, meus filhos comiam felizes, quanta satisfação!
Votei sem escolher, votei sem esperança, mas não foi em vão, na...

quele momento ninguém traiu minha confiança.

Não tínhamos televisão, escola, comida, nem tão pouco, condução.
Mas ouvíamos ao longe, algumas vozes dizerem que voto não era moeda de troca
Ora, quanta lorota! O que seria então, se só temos direito ao não.
Para mim, tudo isso distante de minha realidade naquele instante.

A única voz que eu conhecia eram gritos da minha família
Onde meus filhos choravam de fome e minha mulher desfalecia...
Em muitos dias nada se via, nada se ouvia, nada mudava para nós.
Sem um trabalho para sobreviver, o que nos restava senão nos vender?

Nossos sonhos já haviam morrido, mas o corpo continuava vivo.
A confiança nos políticos para nós era armada e assim nossa palavra era confiada!
A fome matou a nossa ética, o poder comprou a nossa miséria
vendemos a única coisa que ninguém nos roubou,
nosso direito de escolha!

Somos forçados a votar, e nos criticam quando escolhemos não fazer.
Estamos na mira, servimos de alvo, somos expostos em vão;
Mas, o que fazem para melhorar esta situação?
Abaixo a hipocrisia , desapareçam com as criticas
Só quem sente a dor da fome, sabe o que é padecer

Eu vi rolar sobre a face de meus filhos lágrimas de dor.
Não conheço princípios, nem tão pouco entendo de leis,
Mas se existe uma coisa que sei, é que preciso sobreviver
Portanto estou me lixando para todo este poder, represento o índice que fica abaixo da linha de pobreza.
E dele preciso nos defender.

Talvez um dia eu acredite em promessas, me ofender, me indignar.
Me negar a corromper, denunciar tudo e posar de cidadão politicamente correto...
Mas hoje minha consciência briga comigo, este dinheiro não nos deixa estar famintos;
Mata a fome de meus cinco filhos e é muito bem vindo!