domingo, 4 de janeiro de 2015

Filhos, a nossa maior herança !

Por Luciana Magalhães

Ter uma atitude individualista, um gesto de descontrole ou uma palavra feia, faz parte do desenvolvimento normal de uma criança, afinal eles ainda estão formando suas personalidades, conhecendo-se, descobrindo a capacidade que tem para lidar com as adversidades. A questão está em como, nós pais, lidaremos com isso orientando-os de forma positiva para que se tornem no futuro, adultos íntegros, honestos e conscientes dos seus atos perante a sociedade.
Estamos educando a nova geração, o futuro do nosso País! Os nossos exemplos valem ouro, nossas atitudes valem mais do que mil palavras, são como um espelho que nos reflete a todo instante.
Os filhos nunca são iguais, eles têm características diferentes, cada qual com sua particularidade. Às vezes um é mais doce enquanto o outro é mais arredio, mais genioso. Ou mesmo um é mais tímido, enquanto os outros mais ousados. É preciso um olhar diferenciado para cada um, tentando sempre conduzir o de temperamento mais arisco para algo positivo. Todas as crianças tem um dom, precisamos descobrir.
Educar é uma arte, e o stress de uma vida corrida pode nos deixar exaustos, frustrados e incapazes de lidar com eles, mas não devemos nunca desistir ou delegar ao outro o nosso papel. Ser pai dá muito trabalho, exige muita paciência e um amor incondicional. Mas quem disse que seria fácil?
Não basta gerar, é preciso participar, estar presente, ser companheiro, tentar entender o porquê das atitudes. É preciso muito mais do que comprar presentes, planejar as festas, pagar uma boa escola. É preciso ter sempre disponível um momento para escutar, uma palavra de incentivo, um carinho, um elogio... É preciso impor limites, dizer não, ensinar a respeitar, a conquistar.
Somente desta forma estaremos contribuindo para formar cidadãos de bem. E ainda que um dia isso não aconteça, teremos a certeza de que cumprimos o nosso papel fazendo tudo que estava ao nosso alcance, e que infelizmente existem coisas que fogem do nosso entendimento, e que somente Deus é capaz de cuidar.
Mas se tudo der certo, quando o tempo passar enxergaremos os nossos filhos felizes e a vida próspera que ajudamos a construir, mesmo em meio a tanta hostilidade, tendo a certeza do quanto tudo valeu a pena!

Muita luz e um Olhar para o outro...

É com muita tristeza que li a notícia do drama da mãe que esqueceu a filha no carro... nossa, que pesadelo, que dor! Não dá nem para imaginar, nem para julgar... Me veio uma mensagem na cabeça, e senti a necessidade de compartilhar: 
Houve um tempo em que a pressa era apenas inimiga da perfeição, mas hoje o mundo está cada vez mais ligado no botão do automático, no corre corre, é uma rotina programada, até mesmo na hora de ter os filhos escolhe-se dia e hora... É uma cegueira absoluta que faz as pessoas enxergarem tudo, menos quem está ao lado. A pressa que pode custar uma vida!
A modernidade chega impondo uma rotina capaz de transformar as pessoas em marionetes. Quem nasceu na geração tecnologia, foi tido como brilhante, inteligente, um expert no lidar com as máquinas, mas não desenvolve sua natureza humana, sua capacidade de lidar com as pessoas, com as surpresas. Não entendem como isso pode ser tão importante. E para os que vêm de uma época em que a qualidade de vida não dependia de praticidade, tudo isso agora é bom demais, mas sem um equilíbrio pode levar a doença.
O ser humano cada dia mais enxerga menos quem está ao seu lado, não cumprimenta mais as pessoas ao seu redor, não conversa mais sem que tenha uma tela de computador ou celular intermediando, não escuta mais o ruído das ruas, da sua cidade, a voz da sua família! Cada vez mais os pais cuidam dos filhos de forma mecânica, sem perceber seus atos, sem sentir o que estão fazendo.
Está certo, não vou negar que a tecnologia e todo seu aparato tornaram a vida mais prática para todos, mas infelizmente, completamente deslumbradas, as pessoas deixam-se escravizar por elas. As vidas estão se transformando em um amontoado de coisas para fazer, onde o tempo nunca dá para nada, onde não sobra nada, só matéria, conteúdo, posições, dinheiro, bens...
E aí quando é preciso um olhar, apenas um olhar para o lado, nós nos esquecemos de lembrar, pois estávamos muito ocupados.
Menos pressa, mais amor, e um OLHAR para o outro, é o que eu desejo para todos neste natal!
E muita luz para essas famílias.

O Mundo em nossas mãos

Por Luciana Magalhães

POR UM PLANETA MAIS CONSCIENTE, POR UM MUNDO COM MAIS RESPEITO, POR UMA HUMANIDADE QUE FAÇA A DIFERENÇA!
Em meio à selva de pedras ainda escuto o canto das cigarras ao fim do dia, e ainda há o sopro dos passarinhos em uma leve melodia que anuncia o amanhecer. Ainda existe vida!
Logo adiante os castelos tomam o lugar da flora, invadem a fauna, encobrindo as folhas com cimento... E o alimento vai-se embora, e o habitat vai morrendo!
Em nosso lar eles vêm sedentos a procura de alimento, e ruidosos anunciam a sua chegada, agora eles estão sem suas casas...
Este tempo ergue muralhas, espalha a fumaça no ar, transforma o verde em cinza, e a fauna foge atormentada. Habitávamos o éden e não sabíamos, houve um tempo em que éramos saudáveis.
O barulho da vida hoje é ensurdecedor, veda nossos ouvidos e cega nossa vista. O som que vem das ruas ecoa como um ruído brado, repleto de exaustão. Morre aos poucos o paraíso, descobre-se a eletricidade e uma humanidade sem respeito. Já não se permite viver de outra forma!
As cigarras e os passarinhos livres das gaiolas voltaram a cantar. Os micos foram expulsos do seu lar, e em bando vão nos roubar. As borboletas ainda voam por aqui, outrora acolá. Tem um bichinho ou outro rondando por aí... Mas o excesso das máquinas não nos permite escutar, e nem lembrar que eles ainda existem.
A humanidade está invadindo e destruindo mais recursos naturais do que o planeta consegue repor... A poluição ambiental aumenta a cada dia, e desta forma o que restará para as futuras gerações? O planeta está morrendo aos poucos... Até quando?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Hoje não morre um João, imortaliza...
Escritor majestral, nos preconiza
Trajando em sua veste um literato,
O Baiano abre o palco e finda seu ato... (Luciana Magalhães)

(…) sempre me pergunto por que, me havendo feito baiano, Deus não me fez orador. (...)Tampouco sou homem de letras no sentido rigoroso do termo. Sou apenas um romancista, um contador de histórias, cuja modesta cultura literária foi adquirida num convívio arrebatado com os livros de Ficção, a Poesia e o Teatro. Receio que o convívio com a Teoria Literária e o Ensaio Crítico não tenha sido tão amoroso. Pelo contrário, sempre foi – e continua sendo – inconstante e esquivo, pouco entusiástico e, às vezes, indiferente. Não me gabo disso, antes me envergonho, sinto-me incompleto e frágil, ainda mais diante de tantos que aqui se encontram e que merecem, sem a menor dúvida, o galardão de homem, ou mulher, de letras. (João Ubaldo Ribeiro)


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pintores com a boca e os pés, trabalho incrível !!


Com ele eu sentia prazer em aprender, em me desafiar... Impressionante como ele tornava as coisas simples. Obrigada Mestre! Um dos melhores que eu já tive... 
Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, 
A essa hora dos mágicos cansaços, 
Quando a noite de manso se avizinha, 
E me prendesses toda nos teus braços... 

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Soneto de Despedida

(Por Luciana Magalhães)

Que aceno feliz teu gentil abraço,
E muito me agradou a delicadeza
Com que tu te prestaste no meu encalço,
Afagando-me em tão grata surpresa

Tal gesto nos livrou de um embaraço,
E inspirou-me ao teu encontro com viveza,
Todavia atinei ao adeus, mas disfarço,
Desejando não ter esta certeza.

E vou-me como amiga a tua espera,
Pra eternizar o tempo, quem pudera...
Mas tu não vens, e assim eu me desfaço! 

Mas quem sabe em alguma primavera
A espera de um encontro, quem nos dera,

Nossos olhos se esbarrem no entrelaço.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Um conto...

O Encontro
(Luciana Magalhães)

Em noite agradável, de brisa forte e calor suave, ela, o esperava no banquinho, ansiosa... Acabara de ter tido uma surpresa desagradável, mas sentia-se tão forte e feliz com aquele encontro, que tudo o mais se amenizava, e assim ela o esperou, pelas horas que se seguiram... Esperou só, ele não veio... Levantou-se do banco, segurando a bolsa e o livro nas mãos, comprou uma bebida e seguiu para o estacionamento, completamente atônita, mas tentando de todas as formas, disfarçar a sua frustração.
                Segunda-feira, às sete horas, o despertador tocou forte, mas dessa vez ele não lhe assustou, ela acordou feliz, afinal aquele seria um dia especial, havia marcado um encontro. Há muito tempo ela não sabia o que era isso, ultimamente não tinha muito tempo para encontros, a rotina consumia os seus dias de tal forma, mecânica e apressadamente, que não sobrava espaço para sentir sua viveza.
E este não seria um encontro qualquer, ela sabia que poderia ser o primeiro e último, pois suas vidas tomariam rumos diferentes.  Mas, certamente, seria único, seria agradável, uma conversa com alguém que conquistou um significado especial em sua vida, um bate papo prazeroso com muitos assuntos em comum, um amigo, uma feliz recordação. 
Aquela segunda-feira, já tinha um significado especial, naquele dia seguiu sua rotina diária, cumprindo seus afazeres, e aguardando a grande noite.  Passando por uma livraria, pensou em comprar um livro para presentear o amigo, um carinho, uma pequena lembrança pelas suas conquistas, sua amizade.
 Foi direto ao setor de poesia, na verdade, ela procurava por aquela que tem na boca, lindos versos raros pra te dizer, era a favorita dele, mas seria mais difícil encontrá-la em qualquer livraria, foi mais fácil a antologia de Vinicius, e assim foi feito. Com livro e caneta em punho, pôs-se a escrever bela dedicatória, juntamente com poema que acabara de compor, na sua contracapa. E embrulhou-o com capricho, próprio de uma amiga desajeitada, porém esforçada.
Chegou enfim a noite tão guardada, ela experimentou muitas roupas, queria estar bonita para ele, e ao mesmo tempo, se indagava: “para que tudo isso? Parecia uma adolescente, indo para o seu primeiro encontro, com a mente própria de uma sonhadora, no ápice da idade, e pensando ser este o primeiro e único amor da sua vida.”
Refez-se, recompôs-se, e sentiu até vergonha daquilo que sentira.
Estacionou o carro, e seguiu para resolver uma pendência, quando teve uma surpresa inesperada e desagradável. Ela se conteve, uma vez que a doce lembrança de que depois de tudo isso estaria a sós com ele, em uma doce e agradável conversa, a reestabeleceu, trazendo a tranquilidade necessária naquele momento.
Terminado os afazeres, ficou receosa devido a sua demora, perguntando-se o que haveria de ter acontecido, perguntas que se seguiram sem resposta. Esperou, esperou, mas ele não veio. Então ela comprou uma bebida, sua boca estava seca, precisava tomar algo, e é bem verdade que se pudesse, naquele momento, ela tomaria um porre, tamanha era sua frustração.
Já dentro do carro, as lágrimas nem caíam de seus olhos perplexos, estava completamente desvanecida com tudo, aliás, com o nada que a tinha acometido. Uma mistura de raiva de si mesma ao sentir-se uma tola, com a tristeza e frustração profundas. Não seria necessário contar aqui como haveria de ter sido aquela noite, provavelmente a mais longa e triste dos seus últimos tempos.
No amanhecer seguinte, ao acordar, aguardou ansiosa por uma resposta, por uma sinalização que lhe trouxesse o alívio, apesar de considerar as suas chances praticamente nulas, mas nada... nem uma mensagem se quer. Foi quando ela, no afã de sua compulsão, digna de uma exímia impulsiva, se colocou, indo ao encontro das suas respostas. Sim, elas vieram, e foram vagas, mas duramente lhe trouxeram de volta ao chão.
Mesmo sentindo-se envergonhada, frágil, e tola por tudo, ainda assim ela não o culpou, não mais do que a si mesma. Pensou ter sido verdadeira demais, ingênua, e sonhadora... a própria sensibilidade, não mais lhe cabia.   Foi a este encontro montada com presentes e sonhos, com livro em punho, com versos em mente, com o coração aberto... Só haveria de dar nisso.
O presente está guardado no armário, a dedicatória agora parece estar se apagando aos poucos, pensou em entregá-lo ainda assim, mas confessou ter a coragem lhe abandonado, decidindo por rasgar suas folhas rabiscadas, ficando com ele para si.

Certa vez alguém lhe disse que o poeta é um ser miserável, seria porque mais do que amor, ele imortaliza dentro de si a dor e o sofrimento?  Ela vai ter tempo para descobrir... vai ler todos os versos de Vinicius, e outros, e mais outros, e quem sabe não estarão neles, as respostas que ela tanto procura.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Texto emocionante de Carpinejar! Grande mestre das palavras...

PAI DE MEU PAI

(Fabrício Carpinejar)
Arte de Jean Fautrier

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

– Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

– Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.