terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Soneto de Despedida

(Por Luciana Magalhães)

Que aceno feliz teu gentil abraço,
E muito me agradou a delicadeza
Com que tu te prestaste no meu encalço,
Afagando-me em tão grata surpresa

Tal gesto nos livrou de um embaraço,
E inspirou-me ao teu encontro com viveza,
Todavia atinei ao adeus, mas disfarço,
Desejando não ter esta certeza.

E vou-me como amiga a tua espera,
Pra eternizar o tempo, quem pudera...
Mas tu não vens, e assim eu me desfaço! 

Mas quem sabe em alguma primavera
A espera de um encontro, quem nos dera,

Nossos olhos se esbarrem no entrelaço.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Um conto...

O Encontro
(Luciana Magalhães)

Em noite agradável, de brisa forte e calor suave, ela, o esperava no banquinho, ansiosa... Acabara de ter tido uma surpresa desagradável, mas sentia-se tão forte e feliz com aquele encontro, que tudo o mais se amenizava, e assim ela o esperou, pelas horas que se seguiram... Esperou só, ele não veio... Levantou-se do banco, segurando a bolsa e o livro nas mãos, comprou uma bebida e seguiu para o estacionamento, completamente atônita, mas tentando de todas as formas, disfarçar a sua frustração.
                Segunda-feira, às sete horas, o despertador tocou forte, mas dessa vez ele não lhe assustou, ela acordou feliz, afinal aquele seria um dia especial, havia marcado um encontro. Há muito tempo ela não sabia o que era isso, ultimamente não tinha muito tempo para encontros, a rotina consumia os seus dias de tal forma, mecânica e apressadamente, que não sobrava espaço para sentir sua viveza.
E este não seria um encontro qualquer, ela sabia que poderia ser o primeiro e último, pois suas vidas tomariam rumos diferentes.  Mas, certamente, seria único, seria agradável, uma conversa com alguém que conquistou um significado especial em sua vida, um bate papo prazeroso com muitos assuntos em comum, um amigo, uma feliz recordação. 
Aquela segunda-feira, já tinha um significado especial, naquele dia seguiu sua rotina diária, cumprindo seus afazeres, e aguardando a grande noite.  Passando por uma livraria, pensou em comprar um livro para presentear o amigo, um carinho, uma pequena lembrança pelas suas conquistas, sua amizade.
 Foi direto ao setor de poesia, na verdade, ela procurava por aquela que tem na boca, lindos versos raros pra te dizer, era a favorita dele, mas seria mais difícil encontrá-la em qualquer livraria, foi mais fácil a antologia de Vinicius, e assim foi feito. Com livro e caneta em punho, pôs-se a escrever bela dedicatória, juntamente com poema que acabara de compor, na sua contracapa. E embrulhou-o com capricho, próprio de uma amiga desajeitada, porém esforçada.
Chegou enfim a noite tão guardada, ela experimentou muitas roupas, queria estar bonita para ele, e ao mesmo tempo, se indagava: “para que tudo isso? Parecia uma adolescente, indo para o seu primeiro encontro, com a mente própria de uma sonhadora, no ápice da idade, e pensando ser este o primeiro e único amor da sua vida.”
Refez-se, recompôs-se, e sentiu até vergonha daquilo que sentira.
Estacionou o carro, e seguiu para resolver uma pendência, quando teve uma surpresa inesperada e desagradável. Ela se conteve, uma vez que a doce lembrança de que depois de tudo isso estaria a sós com ele, em uma doce e agradável conversa, a reestabeleceu, trazendo a tranquilidade necessária naquele momento.
Terminado os afazeres, ficou receosa devido a sua demora, perguntando-se o que haveria de ter acontecido, perguntas que se seguiram sem resposta. Esperou, esperou, mas ele não veio. Então ela comprou uma bebida, sua boca estava seca, precisava tomar algo, e é bem verdade que se pudesse, naquele momento, ela tomaria um porre, tamanha era sua frustração.
Já dentro do carro, as lágrimas nem caíam de seus olhos perplexos, estava completamente desvanecida com tudo, aliás, com o nada que a tinha acometido. Uma mistura de raiva de si mesma ao sentir-se uma tola, com a tristeza e frustração profundas. Não seria necessário contar aqui como haveria de ter sido aquela noite, provavelmente a mais longa e triste dos seus últimos tempos.
No amanhecer seguinte, ao acordar, aguardou ansiosa por uma resposta, por uma sinalização que lhe trouxesse o alívio, apesar de considerar as suas chances praticamente nulas, mas nada... nem uma mensagem se quer. Foi quando ela, no afã de sua compulsão, digna de uma exímia impulsiva, se colocou, indo ao encontro das suas respostas. Sim, elas vieram, e foram vagas, mas duramente lhe trouxeram de volta ao chão.
Mesmo sentindo-se envergonhada, frágil, e tola por tudo, ainda assim ela não o culpou, não mais do que a si mesma. Pensou ter sido verdadeira demais, ingênua, e sonhadora... a própria sensibilidade, não mais lhe cabia.   Foi a este encontro montada com presentes e sonhos, com livro em punho, com versos em mente, com o coração aberto... Só haveria de dar nisso.
O presente está guardado no armário, a dedicatória agora parece estar se apagando aos poucos, pensou em entregá-lo ainda assim, mas confessou ter a coragem lhe abandonado, decidindo por rasgar suas folhas rabiscadas, ficando com ele para si.

Certa vez alguém lhe disse que o poeta é um ser miserável, seria porque mais do que amor, ele imortaliza dentro de si a dor e o sofrimento?  Ela vai ter tempo para descobrir... vai ler todos os versos de Vinicius, e outros, e mais outros, e quem sabe não estarão neles, as respostas que ela tanto procura.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Texto emocionante de Carpinejar! Grande mestre das palavras...

PAI DE MEU PAI

(Fabrício Carpinejar)
Arte de Jean Fautrier

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

– Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

– Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Homenagem a um amigo especial, que me apresentou o fascinante mundo dos sonetos.

Soneto de Homenagem 
(Luciana Magalhães)

Hoje me apresentaram um soneto,
E logo me encantou teu doce enredo...
E me foi agraciado com surpresa,
Por Kim: Um rapaz cheio de destreza

Quando escutei de pronto o tal terceto,
Apaixonei-me pelo dialeto,
Logo, não mais calei minha certeza,
Que o poeta deságua correnteza

E de fato, o meu amigo, rapaz sábio,
Acendeu em mim um vício fascinante,
De rimar com singelo entrelaçado

Emparelhando sílabas no vasto,
Nos instantes de ócio culminante,
Onde o tempo parece ter cessado

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Saudade...

"E por falar em saudade
Onde anda você
Onde andam os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
De tanto prazer"



No dia 31/10, nosso imortal Carlos Drummond de Andrade completaria 110 anos...

Ah...como eu gostaria de ter vivido esses tempos...












AUSÊNCIA...

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“Os sonetos atravessaram a história, vencendo prisões e guerras, cantando o amor e a arte. Tornaram-se o vício de uma geração. Rimando ou não, tocaram (e tocam) corações por todas as culturas e países, principalmente o Brasil. Ao mesmo tempo curtos e elaborados, eles são sem dúvida a expressão maior da dedicação de escrever versos. Tal dedicação cantou Olavo Bilac em sua obra: “Profissão de Fé”:

“Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor...”


(www.sonetoeshow.com.br)

Compartilhando aqui, um texto que escrevi com muito carinho para os meus tios. Uma mensagem de boas vindas em mais um encontro anual dos amigos de faculdade; amizade que já perdura 45 anos.

Turma ENA - 1968

         Quem imaginaria... 45 anos depois, e ainda estamos reunidos.       
         Os anos se passaram, e com eles, muitos encontros, divertidas histórias, e grandes lembranças!
         As sementes que plantamos, germinaram, e cresceram... E quão vigorosa era a sua raiz, transformou-se em bela árvore, ramificando-se através do tempo.
         E tal qual a Agronomia, nós também precisamos da força da irrigação, de preparo e cultivo, e da interação com o meio, para que possamos dividir as  nossas conquistas e somar as alegrias.
         Se ontem nós éramos os filhos, jovens vigorosos, na flor da idade, gozando da liberdade recém-conquistada pela chegada a universidade, hoje somos a soma das nossas experiências, somos a sabedoria que só o tempo nos permite conhecer, somos três gerações de uma grande família, descendentes da frondosa árvore que propaga seus frutos ao longo da vida. 
         Em tempos de maquinários, encontros à distância, e tecnologia a favor da praticidade, nós remamos contra a maré, em direção a este maravilhoso universo social. E mesmo em meio às adversidades, nos comprometemos com este encontro, viajando por todo o Brasil, juntamente com nossas famílias, abraçando a importância de preservarmos nossa maior herança, a Natureza Humana!
         Que a nossa biografia, construída no decorrer de quase meio século, não tenha sido em vão, e se perpetue pelas gerações que ainda virão.   
         Amigos, sejam bem vindos, apresentem seus entes queridos, não se esqueçam dos apelidos, das aventuras da faculdade, festas, gozações, e descobertas... 
         E usem seus celulares somente para as fotografias, tudo que precisamos está aqui, sejam felizes, conversem entre si, e aproveitem o nosso dia!   
Durval e Teresa Moraes.

                                    (Luciana Magalhães, 2013)

Meu primeiro soneto Alexandrino

Soneto de um amor poético

O verso em ti nasceu, e de ímpeto inebriaste...
Pensei ter sido em vão, tão presto, assim de leve, 
Feito paixão fugaz, um sentimento breve,
Mas transformou o teu amor... Soneto que abraças-te

Valioso presente, a rima em ti aportou à haste,
Do hábito de contar escravizou-te a verve,
E em versos, te inspirou a palavra o quão lhe serve.
Do poema a compor, no heroico tu choraste...

A ousadia instigou o teu verso alexandrino,
Com afinco em buscar, te entregou sonetando,
Ao gosto de encaixar a elisão na cesura

E não deves matar o seu tom libertino,
Conceberás rigor, mas há de estar amando,
Pra sentir poesia, tal qual a lisura.


(Luciana Magalhães, 2013)




domingo, 20 de outubro de 2013

Dia do Poeta !!!!

E para brindar esta data tão especial, eu faço minhas as palavras de Toquinho e Chico Buarque, ao nosso eterno Vinicius:

"Poeta, poetinha vagabundo 
Quem dera todo mundo fosse assim feito você 
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer,
A vida é pra levar, 
Vinícius, velho, Saravá!!!"

sábado, 19 de outubro de 2013

19/10/2013 - O Centenário do Poetinha

Há 100 anos atrás, o Brasil ganhava aquele que seria um dos nomes mais importantes da música e da poesia no País.

O nosso Poetinha!

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes

Se você quer ser minha namorada
Ai, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exactamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeiraMinha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Vinicius de Moraes

terça-feira, 15 de outubro de 2013

15/10 - Dia do Mestre

Parabéns a todos os Mestres do nosso Brasil !!!!!

Soneto aos Mestres
(De Luciana Magalhães)

Que em tempo, nunca falte-me coragem,
Para honrar o saber a mim confiado;
Decerto não haveria sopro de aragem,  
Que apagasse o meu encanto demasiado

Eu me indago defronte a malandragem,  
Mas me calo ante o amor, já consumado;  
E aos mestres, faço dócil homenagem,
Com versos de um docente apaixonado

Que nem mesmo o calor da tempestade,
Me permita tal viagem a deriva,
Sobre os percalços deste magistério;

Lecionando com toda integridade,
Em face da paixão que me cativa,

Redescobrindo o véu do ministério


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Soneto aos Poetas

(Por Inácio Dantas)

Canta, entra no mundo da magia,
põe o tom da paixão n´alma inquieta
move do céu os trovões da alegria
diz o amor com lábios de profeta.

Ergue o teu pensar em linha reta
canta o que tem da vida mais valia,
se alguém não se lembrar do poeta
talvez ainda se lembre da poesia.

Fugir do amor quem o faz se ilude,
revela uma poesia feita a esmo
quem ama e se fecha em si mesmo.

O amor é poesia na sua plenitude!
-Poeta, dessa madeira que tu lavras
constrói o teu castelo de palavras!
A educação do ser poético – Carlos Drummond de Andrade
3 de junho de 2011 por zellacoracao


Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?

Será a poesia um estado de infância relacionada com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos de viver – estado de pureza da mente, em suma?

Acho que é um pouco de tudo isso, se ela encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora, conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou absorvem poesia.

Mas, se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em qualquer outra instituição social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância, que vai fenecendo, à proporção que o estudo Sistemático se desenvolve, ate desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida?
Receio que sim.

A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de Regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem.
A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo.

Sei que se consome poesia nas salas de aula, que se decoram versos e se estimulam pequenas declamadoras, mas será isso cultivar o núcleo poético da pessoa humana?

Oh, afastem, por favor, a suspeita de que estou acalentando a intenção criminosa de formar milhões de poetinhas nos bancos da escola maternal e do curso primário.
Não pretendo nada disto, e acho mesmo que o uso da escrita poética na idade adulta costuma degenerar em abuso que nada tem a ver com a poesia.

Fazem-se demasiados versos vazios daquela centelha que distingue uma linha de poesia, de uma linha de prosa, ambas preenchidas com palavras da mesma língua, da mesma época, do mesmo grupo cultural, mas tão diferentes.
Se há inflação de poetas significantes, faltam amadores de poesia – e amar a poesia é forma de praticá-la, recriando-a.

O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e, depois, como veículo de informação
prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.

Não seria talvez despropositado cuidar de uma extensão poética das escolinhas de arte, esta idéia maravilhosa que Augusto Rodrigues tirou de sua formação humana de artista para a realidade brasileira. Longe de ser uma fábrica alarmante de versejadores infantis, essa extensão, curso ou atividade autônoma, ou que nome lhe coubesse, daria à criança condições de expressar sua maneira de ver e curtir a relação poética entre o ser e as coisas. Projeto de educação para a poesia (fala-se hoje em educação artística no ensino médio, quando o mais razoável seria dizer educação pela arte).

A vocação poética teria aí uma largada franca, as experiências criativas gozariam de clima favorável sem que tal importasse na obrigação de alcançar resultados concretos mensuráveis em nível escolar.
Sei de casos em que um engenheiro, por exemplo, aos 30, 40 anos, descobre a existência da poesia…
Não poderia têla descoberto mais cedo, encontrando-a em si mesmo, quando ela se manifestava em brinquedos, improvisações aparentemente absurdas, rabiscos, achados verbais, exclamações, gestos gratuitos?

Alguma coisa que se bolasse nesse sentido, no campo da Educação, valeria como corretivo prévio da aridez com que se costuma transcrever os destinos profissionais, murados na especialização, na ignorância do prazer estético, na tristeza de encarar a vida como dever pontilhado de tédio.

E a arte, como a educação e tudo o mais, que fim mais alto pode ter em mira senão este, de contribuir para a educação do ser humano à vida, o que, numa palavra, se chama felicidade?

(Jornal do Brasil, Rio de Janeiro – RJ, 20/ 07 / 74)

"De repente toda mágica se acabou e na nossa casinha apertada
Tá faltando graça e tá sobrando espaço
Tô sobrando num sobrado sem ventilador
Vai dizer que nossas preces não alcançaram o céu
Coração que inda vem me perguntar o que aconteceu
Conta se seu rosto por acaso ainda tem o gosto meu"
O Teatro Mágico)

Soneto dos Irmãos

(Por Luciana Magalhães)

Meus irmãos...tão xodós, e companheiros!
Venho dar-lhes o abraço verdadeiro,
E sempre, e hão de ser, meus confidentes,
Desde os tempos de criança e adolescente

Nós éramos assim: três zombeteiros,
Fazendo graça e artes tão inocentes
Quiçá eu voltar um tempo tão farrento,
Onde as horas paravam para a gente

Nem tão sempre eram singelos os nosso tempos,
Haviam brigas tal qual as tempestades
Cada um queria ser dono da verdade

Mas a paz veio abrandar estes momentos,
Com afeições de amor e de amizade,
Atravessando o tempo e a eternidade
"(...) Mas tem dias em que o sorriso me acoita de surpresa,
e deveras sinto-me por ele escravizar...
Pode a tristeza aos poetas fascinar,
mas da alegria hei de morrer um dia."
(Luciana Magalhães)
"Se lecionar vai além do pressuposto,
não haverás de aceitar ser vão esboço...
Tentando renegar aquele jovem,
tão perdido no olhar dos que sofrem..."(Luciana Magalhães)



Esperança na educação?


"Nossa sociedade nunca falou tanto em educação: violência, desemprego, aquecimento global, mudança de valores. É na educação que imaginamos encontrar a solução de todos os impasses que vivemos. Mas será que escola pode dar conta dessa enorme expectativa?
Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim, o que é a escola hoje?
A escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga, com propósito de formar cidadãos, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje: formar mão de obra de qualidade.
Desde então, basicamente nada mudou. O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundo foi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem como em uma fábrica.
Português, matemática, química, geografia, etc, são peças a serem encaixadas; no final da linha sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado.
Mas hoje diante do enorme desenvolvimento tecnológico, e ao mesmo tempo, o extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a educação deve nos formar?
A escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico, e não é.
Segundo o filosofo e educador Edgard Morin, a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos.A escola não está montada para desenvolver a capacidade de cada um, apenas ensina conteúdos isolados, separados um dos outros sem relação com a vida, acumulando informações que se empilham, sem sentido.
Penso que não existe uma separação dos saberes, só fazemos isto metodologicamente.
Vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, dividida, e nós não podemos nos omitir e achar que tudo isto não nos atinge. Costumamos falar de um ser humano violento, cruel, que destrói o planeta, que desrespeita o vizinho e a cidade. Mas não falamos de um novo cidadão e de uma nova “cidade”, portanto mais do que nunca devemos nos perguntar: “Quem somos, quem queremos ser, e qual a”cidade” em que queremos viver?”  (O Cogito - Ensaios Filosóficos)
http://cogitoinexcelsius.wordpress.com/2009/12/25/esperanca-na-educacao/






"Não há espaço para recuo, chance de voltar. É agora avançar ao desmaio, à plenitude do cansaço, ao esgotamento do riso." (Fabrício Carpinejar)

Soneto de Amor


(Por Luciana Magalhães)

Há de voltar o sol alvorecendo
quero tê-lo bem perto dos olhares...
A lua no mar voraz amanhecendo,
o calor infinito que gritastes.

Contemplo teu semblante adormecendo,
Quimeras, e loucuras, e prazeres...
Entre lençóis quiçá te aquecendo,
e aurora que desperta os viveres.

Partidas me consomem de saudade,
pecado, eu provocar, teus doces beijos,
em devaneios além da castidade...

Por vê-lo me inflamo para amar-te,
e suave namorar os teus trejeitos,
com sonetos de amor e eternidade!
"(...) Que no fundo é simples ser feliz
Difícil é ser tão simples."
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo(...)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? " (Fernando Pessoa)

"Que País é esse?"


Lamentável, e triste, e infame, e repugnante... são tantos os adjetivos!
Situação de greve... cerca de trinta mil alunos sem aula há quase 50 dias, um verdadeiro estrago no ano letivo, mas principalmente na vida dessas crianças !!! Pais desesperados sem ter onde deixar seus filhos, precisando trabalhar, crianças completamente desocupadas e ociosas, há um mês do Enem, há dois meses do fim do ano, e sem a menor chance de recuperação para todo esse tempo perdido.
Enfim, se a educação já não é eficaz com as aulas, imagina sem elas? O que será desses jovens?
E os professores? Aqueles que precisam mendigar por condições de trabalho mais justas, por um salário mais digno e honrado, por uma democracia que deveria ser de direito! Quanta vergonha!!!! São eles que nos ensinam por toda uma vida, que ajudam a formar um médico, policial, advogado, mecânico, empresário, vendedor, administrador, artista, além de tantas outras profissões, como prefeitos e governadores! Escutou Eduardo Paes? Sérgio Cabral? E CIA LTDA?
Não, infelizmente eles não nos escutam!
Por conta disso, e mais... é que a greve se instaurou.
Onde vamos chegar com essa justiça de entrave, com tanta impunidade?
MUITA TRISTEZA NESSE MOMENTO...
Que Deus de força a essa “desgastada” categoria, não para a violência, mas para a luta, para a obtenção de sabedoria e êxito dos seus merecidos direitos, sem que para isso tantos jovens precisem pagar com a própria vida.

POR QUE SER O NÚMERO 1 ?


“Uma verdade antiga e atual: Toda criança tem uma vocação. Convenci-me de que durante a infância devia haver sempre alguém a postos para descobrir e incentivar os dotes naturais. Não basta descobrir um dom inato; é preciso espicaçá-lo constantemente. Acima de tudo, é preciso protegê-lo contra os efeitos devastadores da reprovação social.” (Hughes Mearns)

O trecho transcrito, é apenas uma parte das sábias palavras de Hughes Mearns, Educador e poeta, mas acima de tudo, um gênio! Especialmente para nós, pais, que muitas vezes pressionamos nossos filhos diante do desejo de querê-los bem sucedidos, diante do desejo de que sejam aprovados em uma boa universidade federal, diante do sonho de verem o seu nome em primeiro lugar, estampando jornais, outdoors, propagandas de escola e etc. Enfim... seria tudo lindo, se não fosse um detalhe: muitas vezes eles realmente não são o número um, não tiram notas excelentes, não conseguem passar para uma escola técnica ou universidade federal, e nem são gênios superdotados... mas certamente possuem o seu dom natural, uma vocação!

“ Embora poucas crianças sejam gênios, todas, como verifiquei, possuem dotes que podem constituir mais tarde a sua distinção pessoal. Muitas vezes, o jovem inventor, o que tem gosto para o desenho, ou decoração, ou o jovem musico, comediante, pintor ou aquele que tem jeito para a mecânica, podem necessitar de serem defendidos contra o esnobismo dos indivíduos livrescos, inclusive os próprios professores.(…) muitas vezes o dom que parece não ter importância é o que mais servirá na vida. O dom de inspirar confiança pode, às vezes ser mais útil a um médico do que a sua perícia profissional; um apaixonado amor pela justiça, censurado como presunção numa criança, pode contribuir para o êxito de um advogado, mais do que sua capacidade para organizar um dossiê.” (Hughes Mearns)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não basta ser uma máquina, é preciso ter um coração!


(Por Luciana Magalhães)

Ontem meu filho de 14 anos, me perguntou: Quem são eles? Eu respondi: Esses somos nós, e amanhã serão vocês, a nova geração! Impressionantemente dessa vez a rede está sendo usada como ferramenta ideológica, em prol dos direitos e deveres do cidadão, que está curtindo e mostrando a cara não só para se expor, dizer o que comeu ou por onde andou, mas pelo desejo, muitas vezes inconsciente, de fazer história, de transformar o mundo.
As pessoas estão unidas, estão engajadas, isso é maravilhoso, pois diante de tanta parafernália tecnológica, existe uma faísca nos corações, existe ideal além da prática, uma voz senão das máquinas, uma união de sentimentos. É a natureza humana despertando!
Ao invés de focar nas máquinas, no seu mecanismo funcional cada vez mais “quase perfeito” , devemos colocá-la em seu lugar, lugar de ferramenta, uma maravilhosa ferramenta, mas a natureza deve ser nossa, deve ser assim, uma livre manifestação social, junto e misturado, olho no olho, mãos unidas, braços levantados, cabeça erguida e protestos de fronte.
Por um instante, andando pela avenida, por uma ponte, um bairro, cidade ou estado, por um momento histórico os maquinários dão lugar aos mil e tantos corações pulsando no calor das ruas.
E tudo que é pacífico, torna-se ainda mais bonito, e poderoso. Não é porque somos desrespeitados, que agiremos da mesma forma, devemos ser um exemplo de geração dos movimentos sociais, dos que vibram, dos que lutam, acreditam, dos protestos sem censura, dos discursos inteligentes, reivindicações, e luta de todas as classes; afinal, não somos a geração do conhecimento?
A grandiosidade deste momento está trazendo a humanização que faltava para que nós cidadãos coloquemos as mãos no poder. Que seja este para o bem, afinal não basta ser uma máquina, é preciso ter um coração!
Parabéns Brasil, este é só o começo
Foto: Ontem meu filho de 14 anos, me perguntou: Quem são eles? Eu respondi: Esses somos nós, e amanhã serão vocês, a nova geração! Impressionantemente dessa vez a rede está sendo usada como ferramenta ideológica, em prol dos direitos e deveres do cidadão, que está curtindo e mostrando a cara não só para se expor, dizer o que comeu ou por onde andou, mas pelo desejo, muitas vezes inconsciente, de fazer história, de transformar o mundo. As pessoas estão unidas, estão engajadas, isso é maravilhoso, pois diante de tanta parafernália tecnológica, existe uma faísca nos corações, existe ideal além da prática, uma voz senão das máquinas, uma união de sentimentos. É a natureza humana despertando! Ao invés de focar nas máquinas, no seu mecanismo funcional cada vez mais “quase perfeito” , devemos colocá-la em seu lugar, lugar de ferramenta, uma maravilhosa ferramenta, mas a natureza deve ser nossa, deve ser assim, uma livre manifestação social, junto e misturado, olho no olho, mãos unidas, braços levantados, cabeça erguida e protestos de fronte. Por um instante, andando pela avenida, por uma ponte, um bairro, cidade ou estado, por um momento histórico os maquinários dão lugar aos mil e tantos corações pulsando no calor das ruas. E tudo que é pacífico, torna-se ainda mais bonito, e poderoso. Não é porque somos desrespeitados, que agiremos da mesma forma, devemos ser um exemplo de geração dos movimentos sociais, dos que vibram, dos que lutam, acreditam, dos protestos sem censura, dos discursos inteligentes, reivindicações, e luta de todas as classes; afinal, não somos a geração do conhecimento? A grandiosidade deste momento está trazendo a humanização que faltava para que nós cidadãos coloquemos as mãos no poder. Que seja este para o bem, afinal não basta ser uma máquina, é preciso ter um coração! Parabéns Brasil, este é só o começo.

A Educação

(Por Luciana Magalhães)

A EDUCAÇÃO, tão desvalorizada, desrespeitada, ignorada em nosso País, não só pelos governantes mas infelizmente também por muitos cidadãos, é a palavra já tão calejada, tão alarmada em todos os discursos , mas que não quer nem pode calar neste momento!
Ir para as ruas manifestar livremente, poder cantar, gritar, lutar por um país mais justo, mais digno, pelos nossos direitos, uma mistura de gerações manisfestando pacificamente, é lindo demais, mas antes é preciso dar o exemplo com atitudes! Perdemos a razão quando agimos com violência, e fica claro que aquela causada por uma minoria violenta é gratuita e tendenciosa na direção da desordem.
Tacar bomba, saquear estabelecimentos, tacar fogo, apedrejar patrimônio nosso, podendo inclusive machucar alguém!! É isso que queremos que nossos filhos assistam?
Isso é pura falta de Educação, falta de educação essa que não se encaixa em tudo que estamos cobrando, que não começa nas escolas precárias, nem no deficiente sistema educacional do nosso País, mas dentro de nossas casas, independente da classe social, pois existe cidadão pobre e educado!
A Educação começa com bons exemplos, e a família deveria ser a primeira a cultivá-los, mas muitas vezes fazem o contrário; educação, civilidade e ética terminam quando você vende votos, incita a violência, cultiva a agressividade, fura fila, joga lixo no chão, não pratica a gentileza, paga propina, não age com honestidade, se apropria do que não é seu, desrespeita os direitos alheios, pratica o preconceito, agride, xinga, rouba, tenta levar vantagem de forma ilícita, enfim, cultiva o famoso “jeitinho brasileiro”!
Manifestação pacífica é justo e bonito de se ver, vandalismo e violência não resolve nada e eu repudio.
Deveríamos abandonar a ideia de que todos as deficiências que o nosso País vive é culpa somente dos governantes, repensar nossas atitudes diárias e contribuir fazendo a nossa parte.

Cama de Asfalto















Cama de Asfalto
(Por Luciana Magalhães)

Berço de chão, cama de asfalto.
Um Rio sem teto
Assim é o meu castelo, um universo paralelo

Existe um vácuo entre o silêncio e o barulho 
Um invisível no universo dos abandonados
Um sono ameaçado, uma ausência de resguardo. 

O medo é fugaz
Esconde-se nos buracos do descaso
Nos viadutos intermináveis da fome e do frio.

A chuva que encharca a pele
O sol que arde a vista
O chão que parece ficar mais duro
O corpo se flagela, suga a sujeira das ruas
Transpira o mau cheiro da gente

Nada que a água não limpe
Nada que o calor não seque

Vida marginal e real
Que circula entre o bem e o mau
De noites frias e dias quentes
Manhãs ensolaradas de fartura e graça

Um olhar opaco diante do sol, que só enxerga o brilho do escuro.
Outro assim enigmático, pelas drogas e ondas do rádio.
Festa com tiros, que não são de artifício.
E aplausos para uma sociedade que não fazemos parte

Íntimos da clausura, vagantes da noite escura...
Ventres à espera de um milagre, barrigas que gritam de fome!
Desamparados pela sociedade, outrora abandonados ao relento da cidade.
Não somos o seio da família no aconchego de um lar

Um sobressalto a luz do dia, em meio à multidão.
E pequenos já enfeitam o mapa, o trânsito, são órfãos da situação

Amor que contrasta com Dor
Carro desgovernado, com o farol apagado, perdido e sem rumo...


*Imagem retirada do site http://ideiasepsicologia.blogspot.com.br

As máquinas invadem o planeta
Incertezas transformam-se em convicções
A mente humana constrói nova tecnologia 
A natureza padece no esquecimento
Em que lugar eles vão instalar os nossos sentimentos? 
Talvez em uma tela digital, com animação 3D e sensor que te diz como fazer
Ah...quanta saudade de quando ainda construíamos nossas escolhas (Por Luciana Magalhães)
"Tudo deve ser baseado em uma ideia simples. Depois de a descobrirmos ela será tão irresistível, tão bela, que comentaremos entre nós, sim, não poderia ser diferente." (John Wheeler, físico)


Divórcio (por Arnaldo Jabor)

Um dos textos mais sábios que eu já li sobre o casamento.
Escrito com excelência por um gênio do jornalismo.


"Meus amigos separados não cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a mesma mulher. As mulheres sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casadacom o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo. Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue:

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher.

Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.

O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.

De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial?

Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo?

Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.

Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração.

Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento.

Mas se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal “estabilidade do casamento” nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos.

A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma “relação estável”, mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado em fazer no inicio do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, porque não fazer na própria família?

É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto descubra a nova mulher ou o novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par. Tenho certeza que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso de vez em quando é necessário se casar de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

Como vê, NÃO EXISTE MÁGICA – EXISTE COMPROMISSO, COMPROMETIMENTO E TRABALHO – é isso que salva casamentos e famílias.”  (Arnaldo Jabor)