segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Um conto...

O Encontro
(Luciana Magalhães)

Em noite agradável, de brisa forte e calor suave, ela, o esperava no banquinho, ansiosa... Acabara de ter tido uma surpresa desagradável, mas sentia-se tão forte e feliz com aquele encontro, que tudo o mais se amenizava, e assim ela o esperou, pelas horas que se seguiram... Esperou só, ele não veio... Levantou-se do banco, segurando a bolsa e o livro nas mãos, comprou uma bebida e seguiu para o estacionamento, completamente atônita, mas tentando de todas as formas, disfarçar a sua frustração.
                Segunda-feira, às sete horas, o despertador tocou forte, mas dessa vez ele não lhe assustou, ela acordou feliz, afinal aquele seria um dia especial, havia marcado um encontro. Há muito tempo ela não sabia o que era isso, ultimamente não tinha muito tempo para encontros, a rotina consumia os seus dias de tal forma, mecânica e apressadamente, que não sobrava espaço para sentir sua viveza.
E este não seria um encontro qualquer, ela sabia que poderia ser o primeiro e último, pois suas vidas tomariam rumos diferentes.  Mas, certamente, seria único, seria agradável, uma conversa com alguém que conquistou um significado especial em sua vida, um bate papo prazeroso com muitos assuntos em comum, um amigo, uma feliz recordação. 
Aquela segunda-feira, já tinha um significado especial, naquele dia seguiu sua rotina diária, cumprindo seus afazeres, e aguardando a grande noite.  Passando por uma livraria, pensou em comprar um livro para presentear o amigo, um carinho, uma pequena lembrança pelas suas conquistas, sua amizade.
 Foi direto ao setor de poesia, na verdade, ela procurava por aquela que tem na boca, lindos versos raros pra te dizer, era a favorita dele, mas seria mais difícil encontrá-la em qualquer livraria, foi mais fácil a antologia de Vinicius, e assim foi feito. Com livro e caneta em punho, pôs-se a escrever bela dedicatória, juntamente com poema que acabara de compor, na sua contracapa. E embrulhou-o com capricho, próprio de uma amiga desajeitada, porém esforçada.
Chegou enfim a noite tão guardada, ela experimentou muitas roupas, queria estar bonita para ele, e ao mesmo tempo, se indagava: “para que tudo isso? Parecia uma adolescente, indo para o seu primeiro encontro, com a mente própria de uma sonhadora, no ápice da idade, e pensando ser este o primeiro e único amor da sua vida.”
Refez-se, recompôs-se, e sentiu até vergonha daquilo que sentira.
Estacionou o carro, e seguiu para resolver uma pendência, quando teve uma surpresa inesperada e desagradável. Ela se conteve, uma vez que a doce lembrança de que depois de tudo isso estaria a sós com ele, em uma doce e agradável conversa, a reestabeleceu, trazendo a tranquilidade necessária naquele momento.
Terminado os afazeres, ficou receosa devido a sua demora, perguntando-se o que haveria de ter acontecido, perguntas que se seguiram sem resposta. Esperou, esperou, mas ele não veio. Então ela comprou uma bebida, sua boca estava seca, precisava tomar algo, e é bem verdade que se pudesse, naquele momento, ela tomaria um porre, tamanha era sua frustração.
Já dentro do carro, as lágrimas nem caíam de seus olhos perplexos, estava completamente desvanecida com tudo, aliás, com o nada que a tinha acometido. Uma mistura de raiva de si mesma ao sentir-se uma tola, com a tristeza e frustração profundas. Não seria necessário contar aqui como haveria de ter sido aquela noite, provavelmente a mais longa e triste dos seus últimos tempos.
No amanhecer seguinte, ao acordar, aguardou ansiosa por uma resposta, por uma sinalização que lhe trouxesse o alívio, apesar de considerar as suas chances praticamente nulas, mas nada... nem uma mensagem se quer. Foi quando ela, no afã de sua compulsão, digna de uma exímia impulsiva, se colocou, indo ao encontro das suas respostas. Sim, elas vieram, e foram vagas, mas duramente lhe trouxeram de volta ao chão.
Mesmo sentindo-se envergonhada, frágil, e tola por tudo, ainda assim ela não o culpou, não mais do que a si mesma. Pensou ter sido verdadeira demais, ingênua, e sonhadora... a própria sensibilidade, não mais lhe cabia.   Foi a este encontro montada com presentes e sonhos, com livro em punho, com versos em mente, com o coração aberto... Só haveria de dar nisso.
O presente está guardado no armário, a dedicatória agora parece estar se apagando aos poucos, pensou em entregá-lo ainda assim, mas confessou ter a coragem lhe abandonado, decidindo por rasgar suas folhas rabiscadas, ficando com ele para si.

Certa vez alguém lhe disse que o poeta é um ser miserável, seria porque mais do que amor, ele imortaliza dentro de si a dor e o sofrimento?  Ela vai ter tempo para descobrir... vai ler todos os versos de Vinicius, e outros, e mais outros, e quem sabe não estarão neles, as respostas que ela tanto procura.

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