terça-feira, 14 de maio de 2013

Cama de asfalto

(por Luciana Magalhães)

Berço de chão, cama de asfalto.
Um Rio sem teto
Assim é o meu castelo, um universo paralelo

Existe um vácuo entre o silêncio e o barulho
Um invisível no universo dos abandonados
Um sono ameaçado, uma ausência de resguardo.

O medo é fugaz
Esconde-se nos buracos do descaso
Nos viadutos intermináveis da fome e do frio.

A chuva que encharca a pele
O sol que arde a vista
O chão que parece ficar mais duro
O corpo se flagela, suga a sujeira das ruas
Transpira o mau cheiro da gente

Nada que a água não limpe
Nada que o calor não seque

Vida marginal e real
Que circula entre o bem e o mau
De noites frias e dias quentes
Manhãs ensolaradas de fartura e graça

Um olhar opaco diante do sol, que só enxerga o brilho do escuro.
Outro assim enigmático, pelas drogas e ondas do rádio.
Festa com tiros, que não são de artifício.
E aplausos para uma sociedade que não fazemos parte

Íntimos da clausura, vagantes da noite escura...
Ventres à espera de um milagre, barrigas que gritam de fome!
Desamparados pela sociedade, outrora abandonados ao relento da cidade.
Não somos o seio da família no aconchego de um lar

Um sobressalto a luz do dia, em meio à multidão.
E pequenos já enfeitam o mapa, o trânsito, são órfãos da situação

Amor que contrasta com Dor
Carro desgovernado, com o farol apagado, perdido e sem rumo...

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