(Por Luciana Magalhães)
A
Violência, seja
ela contra a mulher, o idoso ou a criança, seja ela doméstica,
sexual ou urbana, seja por preconceito ou conflitos
étnicos-religiosos, por impulsividade em um momento de briga ou por
revolta no sistema, certamente irá nos tirar algo de bom, nos
privará de criar nossos filhos e vê-los crescer em paz, de viver em
um mundo tranquilo, de nos tornar seres humanos melhores.
O
individualismo cega o coração e faz com que nossos olhos só
enxerguem através do espelho. Ainda que saibamos que o nosso código
penal está falido e que o sistema de leis no Brasil é deficiente,
não podemos aceitar ações em que, em nome da morte de um marginal,
seja ele um moleque de rua, ou o chefe perigoso de uma quadrilha de
traficantes, pode-se atirar a esmo, aleatoriamente, com uma
metralhadora que utiliza munição de guerra e dispara vários
projéteis por segundo, feito “Rambo”, sob dezenas de
residências, a uma altura de 20 metros, assumindo assim o risco
iminente de ferir, e até mesmo matar, DEZENAS de inocentes. Se é
que isso não ocorreu, uma vez que grande parte do que acontece nos
morros não chega ao nosso conhecimento.
Provavelmente
já escutamos de tudo: “o código penal não funciona, a operação
na favela é diferente do asfalto, o marginal é cruel, invade casas,
atira em vizinhos, bandido bom é bandido morto, os tiros foram
conscientes, inocente não tem direitos humanos mas o bandido tem, na
favela tem que ser assim...” e etc. Um discurso pautado na
violência.
Mas
nós, todos nós que zelamos pela paz, que somos abençoados com uma
vida digna junto de nossos familiares e entes queridos precisamos da
sensatez, de reflexão a cerca do que desejamos para os próximos
anos.
A
cada novo dia assistimos a cenas de violência gratuita; são
assassinatos, brigas, discussões, e ainda por motivo “banal”.
Não podemos fazer apologia a violência, às armas como objetos de
proteção, afinal uma arma na mãos de um cidadão comum não
protege ninguém, só gera mais violência.
Devemos
sempre considerar os “se”(se atingisse, se matasse...), pois
estamos falando de vidas, e neste caso da operação do helicóptero,
estamos sujeitos a realidades como a morte de um pai, mãe ou ente
querido. Imagina uma chuva de tiros de metralhadora em cima de nossas
casas? Será que pensaríamos ter valido a pena perder quem mais
amamos pela morte do tal bandido?
O
ser humano está tão cego pela violência, que chega a acreditar
que atirar centenas de disparos contra vários inocentes, é uma
atitude normal, contanto que você mate um criminoso em potencial.
Como assim??? Precisa disso para que a polícia seja valorizada?
Precisa disso para que as pessoas reivindiquem na internet alguma
coisa? Que sistema é esse? Que justiça é essa? Que operação bem
sucedida foi essa? Que ação consciente já começa respingando a
violência em tantos inocentes?
Os
fins não justificam os meios. Não é porque o bandido da favela
invade casas, sai matando vizinhos e crianças gratuitamente, obriga
as meninas bonitas do morro a se relacionarem com eles, são cruéis
e torpes, que NÓS, faremos igual. Afinal nos morros existem pessoas
de bem, trabalhadores honestos que saem de casa cedo todos os dias
para trabalhar e tentar dar uma vida mais digna para seus filhos;
pessoas essas que poderiam ter suas vidas interrompidas naquela noite
por uma bala vinda do alto!
De
forma alguma estamos defendo os bandidos, mas sim criticando os meios
como aquela polícia decidiu resolver aquele “problema”!
De
certa forma dá para entender a indignação da população menos
favorecida, que está cansada de tanta impunidade do sistema, dos
esquecidos pela sociedade, que sentem mesmo o alívio pelo bandido
morto, “seria menos um” para lhes causar mais dor. O que não dá
para entender é o cidadão que não mora no morro, que assiste a
tudo isso somente pela TV, que muitas vezes tem uma boa formação,
tem sua família e vidinha estruturadas, mas ao invés de fazer
alguma coisa para tentar tornar o mundo um pouco mais digno, ele vai
na contramão do bom senso e resolve usar o seu tempo postando textos
e imagens tendenciosos, depreciativos e de apologia a violência,
sobre personalidades, que assim como eu, criticaram esta operação,
classificada como irresponsável e desproporcional inclusive pela
própria polícia Civil. Atitudes que certamente em nada contribuem
para combater a violência em nosso País, ao contrário, acirram
ainda mais os ânimos, principalmente daqueles que preferem dar VOZ a
violência.
E
ao contrário do que muitos pensam e está sendo dito nas redes
sociais, segundo consta em vídeo do plenário, postado no youtube, a denúncia e o material foram entregues oficialmente no gabinete do deputado Marcelo Freixo, pela própria polícia civil.
Uma
pergunta: O que as tantas pessoas que só fazem reclamar do sistema,
dos políticos, do governo e etc. efetivamente fazem no seu dia a dia
para combater um pouco disso tudo?
Sim,
porque não conseguiremos mudar o sistema, se ficarmos assistindo e
reclamando de tudo de longe, ou pela internet; devemos
ao
menos
começar
a exercer a nossa civilidade, o nosso papel de cidadão, dando
educação para nossos filhos, ensinando sobre gratidão, respeito
pelo próximo, paciência, perdão, a não cultivar mágoas, não
mentir, ceder a vez, ser gentil, educado, não sujar as ruas, não
agredir, não roubar, não denegrir a imagem do outro, não enganar,
passar a perna no outro, não usar de violência verbal ou física
... enfim, tudo começa por aí. Mas certamente, muitos pensam que
ser mau educado, xingar, dar um soco ou tiro, é mais fácil!
Dá
trabalho ter civilidade, ninguém disse que é fácil, mas este deve
ser um exercício contínuo na vida de todo cidadão. E para que os
aplausos a esta ação não ganhem cada vez mais ECO e tornem nossas
vidas ainda mais violentas, podemos refletir que das centenas de
tiros vindos do céu naquela noite, a uma altura de pelo menos 20
metros, sobre casas e prédios, apenas um, poderia ter sido com o
nosso filho.
Vamos
levantar a bandeira da paz urgente!!!!!
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